segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Foram avaliados descoloramento de cabelos tingidos e degradação provocada por tensoativos

Uma nova ferramenta ajudará a indústria a escolher melhor as substâncias tensoativas dos xampus, que limpam mais e degradam menos os fios. Cabelos descoloridos, e depois tingidos, perdem a cor com maior rapidez do que aqueles que apenas receberam tintas, conforme testes realizados em laboratório. Os dois resultados são de pesquisas de mestrado realizadas pelo Grupo de Pesquisa em Físico-Química Aplicada, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, no âmbito de projeto que desenvolve métodos de avaliação das propriedades físicas e químicas da fibra do cabelo, o que envolve análises estudos sobre cor, propriedades mecânicas perda proteica em tratamentos físicos, químicos ou por ação do meio ambiente.

Na primeira pesquisa, o químico Rafael Pires de Oliveira desenvolveu uma nova metodologia para avaliar os danos causados ao cabelo por substâncias (tensoativas) da fórmula de xampus e que são responsáveis pela limpeza dos fios. Com uso, elas também provocam a perda de proteínas e de melanina, ou seja, de partes da composição da estrutura dos fios, em um processo de degradação das fibras. “O método ajudará a indústria a escolher os produtos menos danosos”, explica o autor da dissertação de mestrado “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS”, orientado pela professora Inés Joekes.

O cabelo é uma fibra natural formada por quatro camadas principais: a cutícula (constituída por material proteico, é parte mais externa do fio, responsável pela proteção das células corticais), o córtex (que reúne macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio), a medula e o complexo da membrana celular. Distribuídos no córtex estão grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo. Ou seja, as substâncias utilizadas para limpeza e o tratamento de tingimento, alvo dos estudos, provocam danos nessas estruturas dos cabelos.

Na pesquisa, Oliveira analisou 16 substâncias tensoativas, uma delas presente na maioria dos xampus no mercado. Os xampus são um “coquetel” de produtos químicos, cada um com uma função específica – no caso, as substâncias avaliadas cuidam da limpeza dos fios. “Todos os tensoativos degradam o cabelo, mas alguns mais e outros menos”, explica o químico, por isso a importância da metodologia que facilitará o desenvolvimento de novos produtos pela indústria. Os efeitos foram analisados em cabelo castanho escuro.

Em laboratório, Oliveira colocou mechas de cabelo escuro em frascos contendo uma solução com diferentes tensoativos analisados na pesquisa, durante 96 horas, tempo bastante superior aos poucos minutos de quem utiliza xampus no banho. A cor desse líquido, no qual os cabelos ficaram imersos, muda conforme a perda de elementos do cabelo, no caso proteína e melanina. Na sequência, as amostras foram analisadas em um equipamento chamado “espectrofotômetro”, que revelou ao pesquisador a quantidade material do cabelo retirado pela substância durante a limpeza. Nesse exame, uma luz é aplicada sobre a amostra e o equipamento mede a quantidade absorvida e espalhada pela substância e a que a atravessa chegando ao detector.

Oliveira desenvolveu uma escala para a avaliação dos resultados, o que permite a comparação entre diferentes tipos de substâncias tensoativas: quanto mais escura a solução desprendida do cabelo, mais danos causados; quanto mais clara, menor a degradação provocada pelo produto avaliado em laboratório. Segundo o autor, trata-se de um método mais simplificado e que permite a análise e comparação de diferentes tensoativos. Hoje, muitas substâncias presentes em xampus são utilizadas sem que haja estudos científicos para a substituição por melhores ativos, explica o pesquisador. A metodologia abre novas possibilidades para a descoberta de novas substâncias tensoativas que podem ter melhores resultados e provocar danos menores.

Cabelos tingidos
O segundo estudo partiu de uma antiga reclamação de quem pinta o cabelo: os fios “desbotam” com o passar do tempo, algumas vezes mais rapidamente do que em outras situações. A química Scheila Daiana Fausto Alves analisou dois dos principais fatores que interagem nesse processo de degradação: o efeito dos tensoativos dos xampus e da radiação ultravioleta, proveniente do sol. E conseguiu decifrar o que acelera esse processo.

“Todos os tensoativos fazem com que haja perda de cor do cabelo tingido, uns mais do que outros, mas, além disso, perde cor mais rapidamente o fio descolorido e que recebeu a tintura depois, se comparado àquele que apenas recebeu a tinta”, avalia a autora da pesquisa, também orientada pela professora Inés Joekes, do IQ. A retirada da cor original do cabelo, com a aplicação de produtos químicos, é usada quando se pretende aplicar cor mais clara.

No estudo, mechas de cabelo foram tingidos e submetidos a 30 ciclos de lavagem, o equivalente a lavá-los, todos os dias, durante um mês. Em alguns dos casos, os fios foram descoloridos antes de serem pintados (condição para quando se busca clareá-los) e outros apenas tingidos com tintura permanente. Além disso, os fios foram expostos a doses iguais de radiação ultravioleta, por meio da utilização de lâmpadas especiais.

O líquido coletado nas lavagens foi submetido à análise em um espectrofotômetro para verificação da saída do pigmento da fibra. Dessa forma, a pesquisadora avaliou o impacto de sucessivas lavagens do cabelo também exposto a doses diárias de radiação solar, a exemplo do que ocorreria no dia a dia de uma pessoa comum.

A partir dos resultados obtidos em laboratório, a pesquisadora compreendeu o ciclo de degradação do cabelo tingido. Há duas dicas que podem ser úteis para quem pretende “esticar” o tempo de vida dos cabelos pintados: é recomendável lavá-los com xampus para bebês, porque eles são fabricados com substâncias que degradam menos os fios; e, de preferência, não se deve descolorir o cabelo para pintá-los, porque isso acelerará a perda da cor depois do tingimento.

Publicação
Dissertação: “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS”
Autor: Rafael Pires de Oliveira
Dissertação: “Efeito de tensoativos e radiação ultravioleta na solidez da cor de cabelos tingidos”
Autora: Scheila Daiana Fausto Alves
Orientadora: Inés Joekes
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Financiamento: Capes

Fonte: Jornal da Unicamp.

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